Sobre o suícidio




Apenas isto.
E pouco mais:
Não nos conhecemos a nós mesmos e não conhecemos os outros. Não sabemos se a pessoa que mostra um ar de felicidade suprema realmente o é.
Não sabemos o que prepassa na cabeça de muitas pessoas que aparentemente têm tudo para serem felizes, ou para caminharem para essa felicidade.
Não sabemos que factores determinam o acto de acabar com a própria vida.
Falamos e opinamos dizendo "Ah e tal, não entendo tinha tudo para ser feliz", ou " realmente tinha uma vida um bocado infeliz mas deixou a família, a esposa, o marido, o filho", ou "não tinha motivos nenhuns para isso".
Não sabemos o que leva alguém a cometer este acto, sabemos contudo que tem muito sofrimento no assunto.Sofrimento da pessoa que o faz, sofrimento da família de quem faz

Há cerca de dois anos pensei em cometer suícidio, em acabar com tudo, mandar tudo ao ar, esquecer,fazer a verdadeira apologia do "quero que metade do mundo se mate, e que a outra metade se foda."
Desistir de mim, dos outros, de tudo. Desaparecer deste mundo de uma vez por todas, acabar pura e simplesmente. E lembro-me perfeitamente que em Dezembro de 2009 (sensivelmente por estes dias), olhei para uma caixa de Diazepam novinha em folha e pensei "porque não"? Agarrei na caixa, abri-a e pensei outra vez "e porque não?Estou farta da minha vida, estou farta de sofrer, estou farta de viver, estou farta de ver sofrimento, não aguento mais isto, não consigo fazer o que me prupôs", e mais e mais e mais. E fiquei muito tempo a olhar para os comprimidos, com as lágrimas a cair pelo acto de egoísmo que ia cometer, mas com uma vontade tão grande de o fazer e de acabar comigo, de ir embora deste mundo.
Mas não o fiz, não sei se desisti de o fazer, sei que não o fiz por causa dos meus pais e muito principalmente por causa da minha mãe.
Se o fizesse estava a cometer como eu digo um acto de egoísmo, a pensar somente em mim e a esquecer os outros. Os meus pais e neste caso particular a minha mãe não mereciam o meu acto de egoísmo.Então arrumei a caixa e adormeci a chorar, a questionar-me do porquê, do porquê de tudo.  

Comentários

  1. As tuas palavras e o teu testemunho fizeram-me chorar, confesso.
    Como dizes aos olhos dos outros podemos parecer perfeitos, mas sabe Deus o que se passa dentro de nós só ele sabe e quero acreditar que só ele é capaz de nos fazer desistir desse tipo de ideias. Obrigado pelo teu carinho e palavras mesmo que virtuais são muitissimo para mim.
    beijinho
    Mary

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    1. Não é que estou a pensar o mesmo, mas por causa do meu pai ainda não o fiz.

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    2. Boa noite sei o que isso é pois não só pensei como fiz não sei como cá estou foi um milagre depois de 1 semana nos cuidados intensivos pensei bem não fui então é porquê não tenho de ir então vou enfrentar tudo e tentar aproveitar a vida mas a vida não é fácil e prega rasteiras hoje estou com depressão não está a ser fácil pois não posso tomar certos medicamentos que têm aspetos negativos (pensamentos suicídio) mas estou a lutar não pela minha vida mas sim do meu filho por ele que se eu tivesse ido nunca teria sido pai hoje sou e por ti vou lutar...

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    3. Já pensei em fazer tantas vezes que até penso que sou cobarde ao ponto de não conseguir fazer.. Mas a minha vontade é mesmo de por um fim a minha vida..

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  2. As tuas palavras são o espelho do meu passado recente...Quando tudo era negro, quando o sentimento reinante era o de falhei em toda a linha. Sim, fazemos de tudo para aparentar normalidade, em prol de uma sociedade, de uma familia, de um futuro que desenhamos idilico e utópico e que sabemos, nunca vai chegar.
    No meu caso, um exemplo próximo, com o pior dos fins, fez-me decidir "eu não quero acabar assim"...Agi, paguei (e ainda pago) a factura. Mas tenho a certeza que valeu a pena.
    Se não vale a pena lutar para ser feliz, então vale a pena lutar para quê?

    Obrigado por me o lembrares.

    Bjs

    Alexandra

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  3. IInês

    Nada que eu diga vai poder apagar esse teu "infeliz " episódio no entanto gabo-te a coragem de falares abertamente acerca dele.

    Só teria aqui um reparo, foi altruísta da tua parte não o teres feito pela tua mãe ela não o merecia, nenhuma mãe merece tal coisa mas tu também não!

    Tem que ser o "TU" a achar que não merece tal destino, tem de ser o tu e sempre o tu a lutar sem desistir!
    A vida, a nossa vida é uma eterna batalha e quem te disser que não está a mentir!

    Bj

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  4. Suicídio... um ser no limite de si próprio!!

    beijo
    Sutra

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  5. Mary:eu acho que somos nós que temos a coragem de fazer e também de não o fazer.

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  6. Alexandra: bem-vinda.Lutarmos para sermos felizes e lutarmos por nós mesmos.

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  7. Isabelices: nem mais.Tens toda a razão.

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  8. Sutra: não sei se nessa altura já não estará o limite passado.

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  9. Eu ja ando ha uns tempos a tentar fazer isso mas nao o fiz na esperança que com a mudança por ter entrado na faculdade tudo fosse mudar. No entanto os problemas surgiram mais uma vez. E no meu caso sendo os meus problemas a nivel familiar nao ha mae que me salve.

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    1. Apesar de já ter escrito este texto há uns anitos, parte do que escrevi mantém-se. Olhando agora, sei que não o cometi, principalmente por causa de mim mesma. Pensei no facto de que a vida merece ser vivida, por mais baixos e baixos que tenhamos de enfrentar. Agarrei-me a mim, essencialmente agarrei-me a mim, e pedi ajuda. Agarra-te a ti, e pede ajuda.
      Um abraço.

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  10. Infelizmente esta questão do suicídio, toca-me muito de perto, embora estivesse longe de a vir encontrar por aqui...Em 2001, o meu irmão do meio tentou o suicidio...não de uma forma que permitisse ainda ser salvo mas de uma que parecia de todo eficaz...Duas horas de reanimação, os médico a dizer-nos que não pedíssemos para que vivesse, pois que a sua vida seria numa cama em estado vegetativo...mas não era o seu momento...não só não morreu como fez uma recuperação fantástica embora tenha estragado a sua vida para sempre, pois a sequelas foram grandes...depois disso no entanto ainda teve três filhos...hoje olha para as fotografias do passado e diz...«antes tinha tudo e não via»...e nós nunca pararemos de nos perguntar onde foi que o perdemos, em que momento é que ainda podia ser salvo e não estivémos lá...pensávamos até aí que estávamos a fazer tudo o que podiamos...obviamente não estávamos...Parabéns pela tua coragem de seguir o caminho e descobrir o que estava para vir...fiquei a admirar-te mais ainda...pela tua força e pela tua franqueza.
    Abraço de urso para ti minha querida.
    Maria

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    1. Vou-te ser sincera: durante anos vivi de perto com esta nuvem negra que é o suicídio e não somente através do que me aconteceu e que levou a este post.
      E tive a capacidade de escrever sobre e tenho a capacidade de falar sobre isto. Assim falei com o psiquiatra, passados uns anos com uma psicóloga. Assim relato e falo sobre este episódio com quem eu veja que pode estar a passar por uma situação semelhante. Mas importante no meio de tudo, é termos a capacidade de pedir ajuda. Sempre pedir ajuda.

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  11. Odeio a minha vida quero ter coragem para acabar com tudo mas não consigo sou uma covarde

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  12. Farto da vida... cansado de lutar, trabalhar e viver numa constante tristeza, frustação...

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  13. Isto é apenas um desabafo de alguém que deseja ardentemente adormecer e não mais acordar. Sou alcoólico apesar de não beber á 39 meses e 14 dias (a defenição de alcoolismo segundo a OMS é "doença crónica tratável incurável"). Os meus pais deram-me tudo o que puderam, deram-se demais se calhar, mas faltou o essencial, o afeto, o amor, o carinho... Estive internado para me desintoxicar do álcool e correu bem. Não me foi dificil fisicamente, socialmente tem vindo a ser um inferno, não consigo conviver, procuro estar sempre sozinho no meu canto apesar de ter acompanhamento de psicóloga e de psiquiatra, lá está eu posso financeiramente mas não me consigo encaixar neste mundo. Cerca de meio ano após ter saido do meu internamento fui planeando tudo, com calma e conscientemente. Comprei uma arma ilegal na rua (tinha conhecimentos do sub mundo na cidade onde estudei), quando se tem dinheiro basta conhecer as pessoas certas que tudo aparece. Arrumei o meu quarto, coloquei numa cruzeta a roupa com a roupa que queria que me vestissem, engraxei os meus sapatos do traje e enviei um e-mail á minha irmã com os meus ultimos desejos que iniciava da seguinte forma "Quando estiveres a ler isto já devo estar morto..." Eu pesei tudo, os prós e os contras e admito que tenho vários amigos verdadeiros, sei que iria causar sofrimento em muita gente mas e eu?! Passei a vida a tentar fazer o que os outros esperavam de mim, sempre fui submisso, fui criado por uma figura opressiva, fui vitima de violência psicológica anos a fio, por uma vez ia fazer o que eu queria. Ia pôr fim ao meu sofrimento. Falhei!!! Aliás sou um falhado, nunca fiz nada de jeito na vida. Conheço pessoas que me elogiam por ter vencido o álcool, é um facto que segundo os numeros apenas menos de 25% dos que tentam conseguem, mas por um lado para mim foi fácil, fui apanhado numa operação stop ás 14:48h e tinha 3,08 g/l de sangue. Tinha mesmo de parar. Parei sem destruir nenhuma familia inocente. Por outro lado posso ter uma recaída a qualquer momento, o álcool é uma droga altamente destrutiva mas de fácil acesso e principalmente tolerada pela sociedade. O que falhou naquela noite chuvosa de 31 de dezembro de 2015?! Tomei um cocktail de comprimidos que "bateu" mais rápidamente do que eu estava á espera, já nao consegui ir buscar a arma, nem deslocar-me para o local que eu tinha planeado dar o tiro na cabeça... "aterrei"!!! durante uns dias andei como um zombie sob o efeito do cocktail que tinha tomado. Era prenda de aniversário que eu queria dar ao meu pai pelos anos de opressão a que fui sujeito, sim o aniversário do meu pai é a 1 de Janeiro. Preferia a violência física sem duvida. Fui fraco, sou fraco! Entretanto entreguei a arma a alguém de confiança e tenho sobrevivido... Infelizmente!!! Desejando adormecer e não mais acordar. Sabem quantos segundos tem um dia? 84 600... 84 600 segundos de sofrimento dia após dia... Quero acreditar que um dia vou conseguir por fim a isto...
    Áh hoje é o meu dia de aniversário :(

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    1. Não estás só Fabiano. Apesar de teres tido um dia mau, parabéns pelo teu aniversário!
      Como eu te entendo ! Também me sinto muito só. A minha infância foi muito má. Pais e um irmão muito narcisistas frios e egoístas. Os meus pais passaram a vida a desprezar-me, sem nenhum tipo de empatia (quanto mais amor), por mim. Nunca tive um abraço. A minha mãe usava-me como balde do lixo para as suas frustrações. Um irmão que, sempre que podia, humilhava-me com todo o gosto. Ao contrário de mim, este meu irmão sempre foi estimado, mas, concordo, também sofreu com ausência de amor e carinho. Ao menos foi estimado. Os meus pais estavam sempre a dizer que ele é que era inteligente, que seria alguém. Eu nunca seria nada, nem ninguém. Bem, não deixa de ser verdade. Sou uma falhada. Eu, não tenho curso. Sempre andei a saltar entre trabalhos menores, nunca consegui nada por mim, não tenho onde cair morta. Os meus pais puseram-me fora de casa, fui deserdada, nunca quiseram saber se estava viva ou morta, e o meu namorado ( agora marido ) foi a unica pessoa que me ajudou. Fiquei a viver num quarto. Nas dificuldades é que se vê os amigos verdadeiros. Então, vi que não os tinha. Tenho, agora, um trabalho que detesto, graças, também, ao meu marido. O casamento também está fracturado. Bebemos muito, fumamos bastante, e, qualquer dia, também somos alcoólicos. A pressão do trabalho é imensa. Ele vive para o trabalho, e nem sequer tem tempo e paciência para me ouvir, e apoiar. Pelo contrário, todas as frustrações que tem vomita-as para cima de mim. Depois pede desculpa, e repete tudo novamente. Já eu não posso fazer o contrário…com o passar dos tempos, afastei-me dos poucos amigos que tinha, até que não restou nenhum. Não tenho ninguém que me ouça, aconselhe e compreenda. Não tenho família, nem para onde ir. A família do meu marido também é detestável. A comida sabe-me mal, nada me dá prazer, não tenho esperança ( é o pior ) e a solidão faz-me viver morta. Só tenho casa porque a partilho com o meu marido. È isso que, no fundo, somos: colegas de apartamento. Já não dormimos juntos há 2 anos (já não consigo, e disse-lhe o que sentia). Ou seja, eu dou-lhe jeito ( também não tem amigos verdadeiros ) e ele dá-me jeito. Amor não há. A confiança que lhe tinha, perdeu-se nas mentiras e desprezo pela minha pessoa. Sinto tanto a falta de ter amigos, de ter alguém para amar, que me ouça e comprrenda. E que eu possa fazer o mesmo, em inverso. Apesar de todas estas dificuldades, a verdade é que eu sei que sou boa pessoa, e a melhor amiga e companheira que alguém pode ter, mas o sofrimento levou-me a desistir de tudo e de mim. Só me apetece ir-me embora para um lugar isolado, estar no meio da natureza, sem ver nada nem ninguém,detesto pessoas, não confio, são egoistas, estar apenas com animais, cultivar a minha horta, e viver com pouco, o básico para ser minimamente feliz. Mas, não tenho dinheiro para isso. Por isso, Fabiano se dizes que tens dinheiro, já tens uma excelente oportunidade para mudar as coisas. Eu sei que o dinheiro não dá felicidade, mas ajuda muito. Ajuda os outros, que merecem, animais, se puderes. Saí de relações que são tóxicas para ti (a melhor coisa que fiz foi afastar-me da minha família). Aproxima-te dos que são verdadeiros amigos, que te estimam. Não bebas. Fuma erva, de preferência, como escape (temos que ter um, é inevitável, e este, moderado, não faz mal). Já tens muito - diria o principal - por onde recomeçar…amigos e alguma capacidade económica. Um pouco de liberdade, pelo menos. Eu estou presa, e sem vontade de viver, pois não tenho como…Um abraço. Espero que consigas.

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  14. Como entendo td isto. Pois a unica vontade que tenho é mesmo acabar com a minha vida.
    Já tentei nao deu certo mas agora desta tem d dar. Estou esgotada. Completamnte

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  15. Há arribas altos e lá em baixo muitas rochas e água.

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